Porque é que alguns países ainda preferem a dobragem?

Adorada por alguns, odiada por outros, a dobragem continua a ser uma prática levada a cabo em diferentes países no que toca a adaptar conteúdos de multimédia a outros idiomas. Em Portugal tendemos a associar as dobragens ao desenhos animados, contudo, diversos países adotaram essa prática como recorrente no que toca a adaptar conteúdos de um idioma para o seu. A wisdom TRANSLATIONS explica o porquê de a dobragem ser uma prática regular em diversos países, apesar de a maior parte cada vez mais optar pela legendagem.

Dobragem: porque ainda é usada em certos países

A preferência pela dobragem em vários países baseia-se em decisões tomadas entre finais da década de 1920 e inícios de 1930. Após a chegada dos filmes com som, os importadores na Alemanha, Itália, França e Espanha decidiram dobrar as vozes estrangeiras.

No entanto, o resto da Europa optou por mostrar o diálogo através de legendas traduzidas. A escolha da legendagem pela maioria deveu-se, acima de tudo, a razões financeiras (a legendagem é mais económica e rápida do que a dobragem).

No entanto, ao longo da década de 1930 a dobragem foi-se tornando numa preferência política na Alemanha, Itália e Espanha. Isto foi com o intuito de criar uma forma rápida de censura que impedia que as ideias estrangeiras chegassem ao público local nestes países. Especificamente, a dobragem permitia a criação de diálogos completamente diferentes dos originais. No entanto, apesar do contexto da época, em algumas cidades alemãs, havia alguns “cinemas especiais” que utilizam legendas em vez de dobragem.

Apesar do passar dos anos, a dobragem continua a ser o método preferencial nestes quatro países. Porém a legendagem tem vindo a crescer lentamente, não só para poupar nos custos e no tempo, mas também devido ao facto de as gerações mais jovens preferirem ouvir os diálogos na língua original. Visto que os jovens em geral têm um nível de educação mais elevado e estão expostos à língua inglesa através da Internet, filmes e séries, não é de admirar que a legendagem tem vindo a conquistar terreno.

O caso de Portugal

O caso de Portugal em relação às dobragens é um pouco mais complexo do que muitos pensam. Curiosamente, apesar da ditadura de Salazar ter sido conhecida pela censura que exerceu sobre o povo, a legendagem nunca deixou de ser uma prática no cinema. As obras estrangeiras que chegassem a Portugal durante o Estado Novo não eram alvo de nenhuma forma de alteração nesse sentido.

Isto porque a dobragem foi proibida em Portugal até ao ano de 1993. Surpreendentemente, na lei que impôs essa restrição em 1948, o objetivo “em teoria” seria o de proteger o cinema português da indústria norte-americana. Um outro propósito por detrás desta medida era o de tornar o cinema num veículo de educação e propaganda nacionalista.

Uma censura indireta

Citando o documento, ao proibir as dobragens, a lei 2027 pretendia “garantir a genuinidade do espectáculo cinematográfico nacional”, pelo que “não é permitida a exibição de filmes de fundo estrangeiros dobrados em língua portuguesa”.

Há que ter em conta um detalhe fulcral: na altura mais de 50% da população portuguesa era analfabeta. Ou seja, uma boa parte dos portugueses não sabiam ler o seu próprio idioma, muito menos eram capazes de compreender uma língua estrangeira. Por conseguinte, isto acabou por afastar o povo português de diversos conteúdos cinematográficos que poderiam levá-los a questionar o regime Salazarista. Em suma, o que restava ao povo português, seriam os conteúdos de produção nacional aprovados pelo Estado Novo.

Em 1971, a dobragem foi autorizada com uma nova lei. No entanto, estava pendente de um regulamento que nunca existiu, o que não alterou nada na proibição implementada no passado. Por fim, em 1993, a dobragem acabaria por ser legalizada em Portugal.

Ironicamente, apesar da longa luta por se tornar numa prática em Portugal, a dobragem nunca ganhou o mesmo tipo de popularidade que a legendagem. É comum verem-se dobragens em filmes e séries de teor infantil, bem como nalguns videojogos para diferentes idades. Contudo, sem dúvida que muitos portugueses, especialmente os jovens, preferem em grande massa a legendagem à dobragem.

Vantagens da Legendagem em relação à Dobragem

No que toca às vantagens de uma em relação à outra, sem dúvida que a legendagem apresenta diversas vantagens, entre as quais:

  • maior rapidez e facilidade de execução, permitindo uma entrega mais rápida de um trabalho com legendas;
  • a popularidade geral deste método no cinema e na TV, bem como em plataformas online como a Netflix, o Youtube ou o Vimeo;
  • para muitos críticos, a “essência” da mensagem original do conteúdo é mantida ao optar por deixar as vozes e o idioma originais;
  • poderá ser um bom mecanismo que auxilie o espectador a aprender e/ou a familiarizar-se com o idioma falado;
  • em geral é uma opção que permite responder a um orçamento mais reduzido.