Estrangeirismos na tradução: adotar ou evitar?

Um idioma é algo em constante evolução e, a cada dia, surgem novas palavras que representam novos conceitos ou comportamentos. Para cada nova geração, as expressões e vocabulário utilizados alteram-se, sendo, nos últimos anos, a principal caraterística de vários idiomas a utilização crescente de estrangeirismos.

Com o fenómeno da globalização, o intercâmbio e partilha entre idiomas levou à inclusão cada vez mais frequente de palavras estrangeiras no vocabulário de muitas línguas, entre elas a língua portuguesa. Isto verifica-se principalmente com o inglês, o chamado anglicismo: sendo uma língua falada e ensinada em diversos países, sofreu uma apropriação dos seus termos por parte de outras línguas. 

Um estrangeirismo define-se, então, como a incorporação de palavras estrangeiras numa determinada língua. Este fenómeno é particularmente caracterizador de uma geração mais nova, que cresceu lado a lado com a globalização e a evolução tecnológica mundial que presenciámos nos últimos anos. O constante surgimento de invenções e novas tecnologias, leva à necessidade de nomear tais conceitos. A solução optada é, em grande parte das vezes, a incorporação dos termos originais ingleses, como “online”, “Internet” ou “email”. 

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No entanto, não só a área da tecnologia é constituída por neologismos. A incorporação do chamado calão (slang) inglês na linguagem do dia a dia, é uma realidade da geração mais nova, como já referido. Com todo o conteúdo inglês a que estão expostos, os jovens começaram a adaptar expressões como “top” ou “geek”. Além disso, novos fenómenos ou comportamentos, têm também uma designação proveniente do inglês, como “bullying” ou “brunch”.

Estes estrangeirismos enriquecem a língua portuguesa e permitem a identificação de conceitos que ajudam o ser humano a expressar melhor as suas emoções e a comunicar acerca dos novos conceitos. 

Sendo a maioria deles termos técnicos da área de informática, ou termos calão utilizados no dia a dia, podem constituir um desafio da tradução técnica, mas também da legendagem, em que a linguagem utilizada é, muitas vezes, coloquial.

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Perante este desafio, o tradutor tem duas soluções: traduzir ou manter o termo. Por exemplo, se um termo tem equivalente reconhecido em português, então será essa a opção de tradução mais fiável. Por outro lado, se se tratar de um neologismo em inglês, há que ter especial atenção ao seu significado. A partir daí, o tradutor deve confrontar-se com as opções que tem, sendo que a mais provável será o empréstimo do termo. Como já foi referido, dado o fenómeno da globalização e a crescente adaptação de termos em inglês pela população mais jovem, esta última opção revela ser a mais adequada e simples para o tradutor.

No entanto, tanto na tradução audiovisual, mas sobretudo na tradução técnica, é de extrema importância ter em atenção o objetivo da tradução, bem como o seu público-alvo. Por exemplo, e tendo em consideração a população envelhecida do nosso país, a adaptação e a compreensão de empréstimos torna-se mais difícil. Assim, é papel do tradutor ter em consideração estes fatores e esclarecer os termos “emprestados” não reconhecidos, para que o público-alvo perceba o seu sentido.

Por outro lado, a legendagem inclui especificações e limites que, por vezes, não permitem a explicação de empréstimos. Este é um dos maiores desafios do tradutor, sendo este muitas vezes impedido de explicar o sentido dos termos. Apesar destas limitações, optar pelo uso do estrangeirismo deve depender do contexto e da sua contribuição para a sua compreensão.

Posto isto, se por um lado há uma preocupação pela preservação da língua de chegada, há também uma necessidade de adaptação aos novos termos na atualidade. É função do tradutor perceber a frequência de uso, bem como a naturalidade dos estrangeirismos, e adaptar opções de tradução mediante o público-alvo e o objetivo da tradução.